mardi 30 septembre 2008

Contra a ditadura celestial

A fé subjugada pela razão. No vigésimo-terceiro encontro do curso de altos estudos Fronteiras do Pensamento, Christopher Hitchens criticou toda e qualquer filosofia baseada no divino. Em “Deus não é grande” o polêmico jornalista inglês contestou dogmas e censurou crenças frente a um público dividido entre o choque e a admiração no Salão de Atos da UFRGS.

Hitchens iniciou a palestra da noite do dia 6 de novembro com uma indagação, segundo ele, das mais pertinentes no atual contexto mundial: “Estamos aqui como resultado das leis da biologia e temos assim que aprender a coexistir, ou somos frutos de um design divino e não temos nenhuma influência sobre nosso suposto livre-arbítrio?”. A conhecida resposta do controverso colunista – que já acusou Madre Teresa de ser uma “fraude fanática e fundamentalista” – consegue, para surpresa do público mais conservador, ir além da simples crítica da fé em um deus ou da oposição a ele. Os argumentos usados por Hitchens contestam a falta de senso crítico e de integridade moral apresentada por dogmas divinos, colocando a razão e o humanismo iluminista como as únicas explicações úteis à humanidade.

A necessidade por respostas é que teria, de acordo com o jornalista, criado as entidades divinas. A religião seria, então, a primeira tentativa do homem de entender sua realidade. Suas falhas, contudo, vêm do seu pioneirismo, já que suas explicações surgiram na “época da infância assustada da nossa espécie”. Quando não existia conhecimento sobre astronomia, origem dos seres ou evolução, o homem encontrava respostas em “fábulas divinas” na sua busca por entender fenômenos naturais simples, como a transição entre o dia e a noite.

Hoje, frente a todo o conhecimento adquirido pela humanidade em sua constante evolução, a religião não teria mais espaço. Todos os dogmas, cristãos, judeus ou muçulmanos, compartilhariam de um mesmo erro ao colocar a fé acima da razão. “A religião insulta profundamente a nossa integridade”, diz o inglês, acrescentando que “a concepção de fé como uma virtude reduz o homem a um ‘estado animalesco’, em que é preciso a visão de uma autoridade divina para nos ensinar a distinguir entre o bem e o mal.” Se certamente um produto humano, a religião é acima de tudo um produto masculino, argumentou ainda o escritor. Todas as religiões reprimem a mulher, apresentando-a como um ser inferior, a verdadeira fonte do pecado.

Como desafio aos seguidores do que considera uma “ditadura celeste”, que exige ao mesmo tempo o amor e o temor de seus fiéis, Hitchens lançou duas questões: “Nomeie uma ação moral, ou prática, realizada por um crente que um não-crente não possa repetir” e “nomeie uma ação que não poderia ser executada sem intervenção divina”. Aos que respondem que a polêmica do seu desafio nada mais é do que fruto de seu ateísmo declarado, o jornalista alfineta mais uma vez: “Sou anti-ateísta. Um ateísta nega a existência de um deus, mas ainda pode desejar a existência de um. Já um anti-ateísta está contente por não existir nada além da razão”. “Você se sente muito melhor quando não acredita que existe um déspota celestial pronto para te julgar”, completou.

Copesul Cultural

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